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Nasci em Minas de S. Domingos, uma pequena aldeia do Baixo Alentejo, no dia 19 de Maio de 1955. As minhas raízes são fortemente alentejanas. Cedo se revelou o meu gosto pela escrita. Comecei por escrever histórias, versos, poemas curtos mas longos no sentimento. Aos poucos foram crescendo, ganhando alma, criando à minha volta desejos, desnudando sentimentos onde encontrei muito para chorar. Quando escrever se tornou para mim uma dependência compreendi que era através da escrita que encontrava sossego sempre que sopros grosseiros de desordem invadiam a minha vida. Escrever é para mim um enorme prazer mas é também preocupação e responsabilidade: Preocupação como forma de disciplina, responsabilidade como contrapartida de uma vida livre. Escrevo pondo de lado todos os medos, e desfruto desse acto criativo, inventando, porque a literatura é uma invenção. Com frequência os meus livros nascem de ideias abstractas que vão ganhando forma à medida que as personagens se vão dispondo e arrumando sem conflituosidade. Escrevo com o coração, reescrevo com a cabeça e, por fim, dou-lhe alma.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Pequeno texto do meu próximo livro FLOR DE CARDO

...desci a escada seguido por Romeu, um labrador adulto de cabeça gigante de pelo magnífico preto de azeviche.
Pedia-me festas, parei e ele exibiu a sua habilidade de campeão olímpico de salto em altura, preparando-se para pousar as patas nos meus ombros. «não vês que me sujas romeu. Hoje é o casamento do nosso menino. Vai ter com ele. Vai gostar de te ver». Obedeceu. Francisco fez-lhe uma festa no focinho e ele emitia gritos dilacerantes de alegria, limpando-lhe com a língua a cara e as orelhas enquanto fustigava o ar com a cauda peluda.
Segui-o até ao jardim onde o Francisco, já pronto, contemplava o belíssimo chão azul da piscina daquela casa que eu construíra com esforço e trabalho.
Adorava a minha casa e tudo o que ela representava. A casa mais do que um simples objecto, era o centro humano da minha família. Nela guardava agora a intimidade do meu ser, transportando para ela memórias de protecção, revivendo o seu calor, sendo certo que deixarei para os meus filhos a casa natal que eu nunca tive e o que dela me lembrava, não passava de um espaço de solidão, decepcionante. Uma infância melancólica de miséria efectiva. Essa ausência deixou marcas até á vida adulta. Dentro desta casa natal, que vê, vela, vigia e espera, os meus filhos podiam sonhar a infância, sonhar o refúgio, o ninho, e alojar-se no seu espaço de felicidade, enquanto eu a sentia como o centro cósmico que alimentava os meus devaneios poéticos...

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